Por um método aberto, neste momento, nas artes e em todo lado (agora, neste momento, o melhor é fazer nada e deixar tudo na mesma)

A pesquisa acadêmica em artes promove um sem número de discussões, nas mais variadas esferas, que questionam a seriedade dos trabalhos desenvolvidos, sua serventia (o que um artista quer na academia?), e que podem muitas vezes cercear a produção artística, moldando-a naquilo que se espera dela nas instituições de ensino superior.

Eu não vou trazer uma solução única, até porque não me parece que ela exista, ainda e especialmente agora, neste momento tão delicado que as universidades públicas vivem no país. Mais vou partilhar o que sinto: agora, o meu sentimento é que o caminho certo é fazer e-xa-ta-men-te o que se espera de nós: a fundação de fomento quer uma metodologia careta? Claro, vou consultar um dos vários “como se fazer uma tese” e copiar de lá todas as ferramentas conhecidas de recolha de dados, ainda que isso não me ajude exatamente a chegar ao meu objeto; o orientador pede um cronograma claro para assinar o relatório da bolsa? Com certeza, agora mesmo vou desenhar uma sequência de eventos que desconheço quais são e os colocar no tempo que com certeza vai mudar; a banca achou o texto confuso? Não se preocupem! Deem-me mais uns dias que coloco tudo nos eixos, com introdução, desenvolvimento em três capítulos (um teórico, esboçado nas leituras de um cronograma fictício, um com a metodologia, quando explico sobre todas as ferramentas que não usei, e o terceiro com um objeto que não tive tempo de conhecer, já que estava envolvido neste faz de conta), sem esquecer de uma conclusão que amarra tudo, caprichadamente e para inglês ver.

É tudo cocô.

Tive a sorte de estudar em lugares e com professores que me deram muita liberdade na pesquisa (a Universidade de Aveiro, inclusive, tem pesquisadores muito sérios na área). Pude fazer, todas as vezes, da maneira como quis, recebendo os elogios que mereci e levando as porradas certas, no momento em que precisei (confesso que algumas dispensaria, mas tudo bem…). Em determinado ponto da tese, escrevi que a natureza teórico-prática da pesquisa assumia a não adoção de um viés metodológico único, utilizando procedimentos de investigação de diferentes tipos, de maneira que se pudesse atender às demandas metodológicas geradas no processo sem que fosse negligenciado o rigor científico (olha ele aí). Vejam o contorcionismo: era o meu jeito de me resguardar por fazer aquilo como eu tinha feito, com plena convicção de que não haveria outra forma de fazer! Havia um sentido que regia tudo, que estava por trás de tudo, mas cada movimento, cada parte da pesquisa, foi desenvolvida separadamente, no seu tempo e do seu modo, utilizando ferramentas, fontes e métodos de diferentes áreas, numa costura que começou em mim, na minha experiência de artista e pesquisador, mas que só se completou na mão do leitor da tese, que tinha que decidir como e em que profundidade estava disposto a construir o texto que estava em suas mãos. Foi assim porque tinha que ser assim.

Fiz do jeito que me pareceu mais correto, comigo e com a pesquisa, mas dando a entender que não, que tinha feito como era solicitado e esperado. Foi uma experiência tremenda e que, eu imaginava, seria libertadora: agora doutor, nunca mais iria precisar escamotear o jeito de fazer e produzir nesse lugar. Ledo engano.

Se você passa por isso, não desista. O que me dá força é pensar que até isso pode ser encarado como um exercício de criatividade, sendo colocados nesse lugar dúbio para nos fazer aprender a driblar, e que o mais importante mesmo é não deixarmos de acreditar naquilo que fazemos, da forma que fazemos. Eles querem ver você falar sobre método, está aqui, dois pontos. Pedem para que fale sobre escrever um objetivo, tome, leve. Estão com dúvidas sobre a pergunta da sua pesquisa, saiba explicar de um jeito que eles entendam.

Uma hora nossa hora vai chegar.