Reconfigurações espaciais a partir da Covid-19

Muito se fala num “novo normal”, expressão para apontar um suposto novo estado de normalidade que incluiria cuidados, precauções e procedimentos de trabalho, educação e sociabilidade. Entrariam aí, por exemplo, o uso constante de máscara, a ausência do cumprimento por mãos, o teletrabalho, a educação a distância… Talvez ainda seja bastante cedo para termos contornos definidos de uma nova normalidade, especialmente porque costumamos adotar procedimentos que nem sempre constituem caminhos a partir de normas – ou seja, gostamos de adaptar, de nos apropriar, de ressignificar práticas, objetos e condutas. As mudanças culturais, afinal, não se realizam a partir de mudanças de chaves: elas são graduais, ocorrem por meios furtivos, às vezes imperceptíveis no curto prazo.

Algumas pistas, entretanto, começam a se desenhar – se não como práticas cabalmente situadas num novo formato, pelo menos como indícios do que teremos em certos lugares. Em New York, temos o exemplo do Williamsburg’s Domino Park, que agora conta com círculos demarcando áreas onde pode ficar uma pessoa por vez.

Fonte: NYC Urbanism [https://www.instagram.com/p/CARX66YHMf4/]

No Instagram, o Playground publicou uma série de fotos mostrando largos espaçamentos entre as pessoas em lugares públicos, sem especificar, contudo, a origem das fotos. Algumas das práticas de distanciamento são inspiradas na separação por meio de zonas restritas, enquanto outras proíbem que indivíduos venha a se sentar próximos uns dos outros.

Fonte: PlayGround Br

Já o site Tactical Space, uma iniciativa realizada por colaboração, está aberto a exemplos que evidenciem táticas de enfrentamento à Covid-19 no que diz respeito aos usos e apropriações do espaço. A rigor, o site aceita contribuições variadas relacionadas a qualquer tipo de adaptação urbana, tais como zonas de desaceleração, ciclofaixas temporárias, hortas coletivas etc.

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Tactical Space coleta, por colaboração, exemplos de adaptações urbanas visando uma cidade mais humana e coletiva.

No Brasil, tem sido comum que farmácias e supermercados, lugares de maior permissão de circulação nesse “novo normal”, estejam sendo controlados de formas variadas, como filas com faixas de distanciamento de 1,5m a 2m entre cada pessoa, além da proibição de indivíduos sem máscara. Há também cuidados para não lotar lugares pequenos, como os estabelecimentos farmacêuticos, além da disponibilização de álcool em gel.

Um retorno a partir do espaço público

O cenário de retorno à “velha normalidade”, talvez devesse ocorrer a partir do uso e valorização do espaço público, como praças, feiras de rua e até “extensão” de espaços privados para parte da rua. É o que aponta texto no blog Project for Public Spaces. A intenção, nesse caso, se dá tanto no sentido de evitar aglomerações de pessoas em pequenos lugares como um usufruto de aspectos psicologicamente relaxantes, como os árvores, gramados etc. Infelizmente, no Brasil, algumas condutas e ensaios de reabertura comercial indicaram lotações em shoppings.

Fonte: Project for Public Spaces